terça-feira, 7 de abril de 2015

Açúcar? Não, obrigada.



A reportagem da SIC, "Somos o que comemos" ainda está a latejar na cabeça de muita gente, sobretudo pais e cuidadores de crianças. Já escrevi sobre este tema, mas haverá sempre muito a escrever, muito a dizer, e nunca será suficiente para  deixar bem presente o alerta do excesso de açúcar na nossa alimentação. 

Como disse anteriormente, a primeira coisa que fiz quando comecei a ter consciência dos perigos do açúcar, foi banir produtos processados cá em casa. "Tudo o que é processado e vem de pacote, tem açúcar", diz a Pediatra Júlia Galhardo na reportagem. Não posso concordar mais. Começámos a achar natural e normal comer o que vem das prateleiras do supermercado, sem questionar. Porque razão venderiam algo que nos faz mal? Na verdade, não faz mal. Na verdade, a falta de bom senso do consumidor é que o prejudica. Um sumo uma vez por mês, não fará mal. Um sumo uma vez por dia, já fará. 

Olhar para o rótulo e procurar "açúcar", não basta. O "açúcar" tem muitos nomes, como a Pediatra Júlia Galhardo referiu na reportagem: dextrose, maltose, maltodextrina, frutose, xarope de milho, e tenho mais uns quantos para acrescentar, sorbitol, galactose, lactose, polidextrose, manitol, xilitol... Muitos destes açúcares estão naturalmente presentes nos alimentos que ingerimos diariamente, mesmo os de origem orgânica: a fruta, os legumes, o leite e os cereais. Identificamos rapidamente a frutose e a lactose. A diferença, é que são açúcares complexos, que são ingeridos com as fibras dos alimentos que os possuem, e por isso de absorção mais lenta que os açúcares simples*. 

O "sem açúcar" é mito. Não existe tal coisa, a não ser no sal (e mesmo assim tenho as minhas dúvidas). Se diz "sem açúcar" e é doce, é porque tem "açúcar". Muitas mães vivem na ilusão de dar bolachas sem açúcar aos filhos, achando assim, que será mais saudável. As bolachas podem não conter açúcar, mas de certeza que têm adoçantes e edulcorantes, e sinceramente, não sei o que é pior dar. Já sei o que estão a pensar... as bolachas de água e sal? Também têm açúcar! (incrível, hein?) 

Agora que já percebemos isto tudo, faz sentido, falar em não dar papas aos filhos por causa dos açúcares, quando depois se vão dar papas de fruta e bolachas? Mesmo, que sejam bolachas sem açúcar? Pois, foi o que pensei também: não! Podem-se fazer papas caseiras, tão fáceis, rápidas, saborosas, nutritivas e a palavra chave, saudáveis. Bastam cereais, água, e se quiserem fruta e leite. Assim simples!

Portanto, olhar para a distribuição nutricional, e ver a quantidade de açúcar que um alimento tem, pode não ser suficiente, se não soubermos de onde vem esse açúcar. Acaba por ser uma trabalheira, ter que andar a ler rótulos, atrás de rótulos, atrás de rótulos, quando era suposto confiarmos nas palavras "infantis", "para bebés", "para crianças" e "sem açúcar adicionado". Eu como preguiçosa nata que sou para essas coisas, simplifico: compro ingredientes e faço eu mesma! Não dá tanto trabalho quanto isso, e aqueles minutos de descanso no sofá que se perdem, ganham-se em consciência ao deitar, sabendo o que enfiei na boca das minhas filhas.

Não sou dada a radicalismos e extremismos (tenho uma caixa de bolachas maria na despensa). Sobretudo, não sou dada a tomar-se acção durante uma semana, ou durante um mês. Sou apologista das melhorias que possamos fazer diariamente e que prevalecem para sempre. Prefiro o "a partir de hoje, (não) vou fazer isto", mesmo que seja uma coisa pequenina, do que o "durante esta semana, (não) vou fazer isto" e acabando essa semana tudo volta ao mesmo.

Por isso todos os dias, quando olho para o meu frigorífico, despensa e mesa de refeição, pergunto: "o que vou mudar hoje?". Um bom exercício para perceber o que devemos e não devemos comer, é perguntar-nos "o que isto me vai trazer de bom, na minha saúde e bem estar?" Já sei o que estão a pensar, uma tablete de chocolate dá um prazer do "caraças" a comer (se dá). Mas estamos a falar one day at a time. Um dia comerá a tablete inteira, depois só metade, até conseguir só comer um quadradinho, e ter o mesmo prazer. Disciplina e bom senso, é o que é preciso.



* Mesmo assim, devo deixar o alerta, que a fruta não deve constituir uma refeição isolada "pois o volume necessário para suprir as necessidades energéticas seria incomportável sob o ponto de vista de tolerância digestiva, devido ao elevado teor de fibra que poderia conduzir a desequilíbrios em micronutrientes por compromisso absortivo." (in Acta Pediátrica Portuguesa Setembro/Outubro 2012). 

11 comentários:

  1. Olá! Para quem não tem muito tempo de manhã, qual o melhor pequeno-almoço para uma criança de 2 anos? Tem mais ou menos 20/25m para comer. Ele come mto bem e come praticamente tudo. Gostava de lhe poder dar papas de aveia mas não dá para preparar no dia anterior e no proprio dia não dá tempo. O que sugere?

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    1. Olá! Boa pergunta, porque vivo esse dilema diariamente. As manhãs são uma correria, quase sempre atrasadas. Ultimamente tenho preferido dar-lhe o pão com leite ou iogurte. Preferencialmente pão escuro, mas como a pequena uma opinião muito vincada, lá vai de pão normal. Normalmente barrado com compota de frutas sem açúcares (mesmo sem açúcares), muito raramente com manteiga. Pode fazer as overnight oats, que são umas papas de aveia que cozem durante a noite. Basta juntas flocos de aveia com iogurte, ou leite, (eu já experimentei com sumo de laranja e não gostei muito), e pela manhã adicionar fruta aos pedaços. Acho que pode ser uma boa alternativa, quando não se tem tempo.

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    2. Obrigada! Vou ver se descubro receitas dessas papas de aveia (overnight oats). :D
      Quanto às compotas sem açucares, são caseiras?
      Também não lhe dou manteiga embora saiba que lhe dão na creche ao lanche.

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    3. Existe uma marca no mercado que são mesmo sem açúcar, as compotas St. Dalfour.

      Lista de ingredientes: Morangos, Sumo de frutas concentrado, Sumo de limão, Pectina de fruta. (a pectina é um "solidificante" de origem vegetal).

      Se olhar para a tabela nutricional, vai-se assustar, porque diz que por cada 100gr de compota, tem mais 50gr de açúcares, mas são açúcares da fruta, e estamos a falar em barrar ao de leve uma fatia de pão e não despejar meio frasco em cima :) Por isso digo, que não se pode simplificar a procura, simplesmente olhando para a tabela nutricional.

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    4. Eu já fiz papa de aveia e dei no dia seguinte. Bastou adicionar um pouco de água e aquecer. Ficam boas na mesma ;)

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    5. Obrigada pelo testemunho, Ana :D Efectivamente, nunca fiz essa experiência, por isso nunca sei esclarecer se me perguntam se se pode guardar.

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  2. Claro que compota caseira, é um outro nível! Se houve oportunidade de fazer, melhor ainda. :)

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  3. Então quando diz "sem açúcares adicionados" num sumo de fruta não devemos acreditar? Há tanta fiscalização que me custa a crer que adicionem açúcares para além dos naturalmente presentes na fruta...
    Sofia

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Tem que se ler os rótulos mesmo! Ainda há dias num leite dito de crescimento, dizia "sem açúcares adicionados" e lendo os ingredientes, tinha a maltodextrina logo em 3º ou 4º lugar :/

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  4. também tenho o mesmo dilema com a minha pequena de 3 anos.
    as manhas são sempre a correr e muito cedo, ela não é fã de comer assim que acorda mas la vai fazendo o "sacrifício"
    agora estou a testar umas panquecas de fruta (sem açúcar) que fiz e congelei. vamos ver se ficam boas e se ela lhes pega ;)

    temos que ir tentando e arriscando principalmente nestas idades que pensam que "mandam" :P
    Mary

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